terça-feira, 18 de outubro de 2011

Bom dia, querida, Acorde! Eu matei o seu gato. Não se assuste assim, não se espante. Eu estava confusa e o mundo é tão cruel comigo. Ele estava ali parado completamente alheio a tudo, com o olhar fixo na parede como se ela não fosse só uma parede branca. As vezes ele espiava a nossa pilha de agonias guardadas para depois espremidas ao lado do armário. Você vê? Não foi culpa minha, não vamos achar culpados. Eu te amo, mas estava com tanto medo que precisei matar o seu gato; precisei arrancar aqueles olhos amarelos e bater aquela cabeça miúda contra o chão. Os destroços ainda estão pela sala; venha ver, querida, você precisa encarar isso. Não chore, por favor, eu te amo tanto. Não quero te ver triste, minha querida, eu só quero o seu bem. Só quero que você seja feliz. Não me odeie, ok? Eu te amo tanto e precisei matar o seu gato porque amar é tão difícil, pobre de mim, querida, sofrendo confusa com medo assustada cansada, e te amando...claro que eu teria que matar o seu gato. Seja compreensiva, ele não sabia de nada disso mesmo. Eu poderia ter usado outras formas de escapismo, poderia ter te ignorado ou sumido. Mas eu preferi matar o seu gato. Eu precisei enfiar as minhas unhas naquela carne inocente. Não chore, querida. Não me culpe. As coisas são assim mesmo, eu também não entendo. Não chore, não soluce, querida. Eu não fiz por mal, eu te amo. Você é sempre tão forte, como eu poderia imaginar que isso iria te machucar?

Um comentário:

  1. acho que já li isso umas 200 vezes... e é uma das coisas mais bonitas que já li.

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