sexta-feira, 21 de maio de 2010

eu não tenho tempo, mas as palavras ainda me tem.

a unica dor que dura pra sempre é a dor de existir.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

mas os pássaros migram pro sul no inverno...

Para ler todos os dias antes do café:


Apertei meu corpo na cama, desengasgando o abraço que não te dei. Era uma agonia como estar andando na rua e do nada sentir vontade de escrever sem ter papel nem caneta. Andar na rua, sentir vontade de te abraçar sem te ver. Os meus olhos mal acompanhavam a velocidade branca-prata-preta nas avenidas, os faróis vermelhos que continuavam piscando sobre o preto das minhas pálpebras quando fechava os olhos me lembram o som do teu coração durante a noite, enquanto eu brigava com o sono pra poder te ouvir. Mas eu já andava levada pela brisa preguiçosa do começo da tarde, te procurando entre os rostos curiosos e intimidadores que escorriam enquanto passavam por mim. Eu não podia os ver sorrindo por dentro como via você. E não era nada espantoso; não me impressionava que eu não conseguisse sentir muita coisa com qualquer pessoa depois de ter sentido tudo aquilo contigo. Meu rosto dizia exatamente o que o lábio calava. E eu piscava os olhos rápido temendo alguma vez abri-los em um momento anterior, talvez enquanto você dava um daqueles sorrisos espontâneos que eu esperei surgir em tantas outras pessoas - mas que nunca vieram. O problema, na verdade, estava no meu medo sendo afagado pela distorcida recém-adiquirida capacidade de tentar mudar a realidade de que o meu único bom relacionamento era com a Sra. Stolichnaya.

sábado, 8 de maio de 2010

Positividade é para os fracos

Voa em mim

Enfiaram uma rolha de vinho barato na minha última válvula de escape, outra vez.  Não vou mais comer, nem beber. Quero sentir fome e sede. Vou enfiar a cara no forno aceso pq quero sentir queimar. Quero sentir qualquer coisa, qualquer coisa menos isso.
Somos todos cretinos sim, Bukowski. É a cretinice que nos faz pensar demais e desejar apenas a companhia das palavras e de um álcool qualquer. Eu não te quero, dia ensolarado – deixe-me aqui com meu blusão. E, assim como o passaro azul no seu coração, hoje eu sei que também tem um pássaro preso dentro de mim.
Não sei quando ele chegou, se é que chegou ou que sempre esteve aqui. Não sei se o colocaram aqui dentro enquanto eu estava sóbria de menos pra perceber, ou ocupada de mais pra me importar. Mas isso explica as pontadas agudas no peito antes de dormir, e muitas ao acordar. Era o bico fino me comendo por dentro, eram as asas úmidas e fracas agonizando pra sair, e o meu silêncio não passava do canto rouco do pássaro frágil que ninguém nunca conseguiu ouvir. O meu apreço pela solidão nunca foi mais do que a certeza de que, na realidade, eu já estava acompanhada. E no meu coração não há aço nem asfalto, como sua temperatura fazia parecer, ele foi predado pela fome e o ódio de um pássaro trancafiado – por isso eu o sentia doer.
Ele voa em mim, porque sou só espaço vazio, e vence a gravidade do meu corpo até se trombar com os meus limites, decepcionado. Tem olhos grandes o suficiente para conseguir enxergar no escuro que eu sou. As vezes se move durante horas, dias, se esforça até perder a última pena pra voar pra longe da minha pele em forma de grades. Vive tomado pelo cansaço de quem resiste em vão, mas não perde a beleza triste; não cala o canto gritado quase em forma de grunhido, não deixa de me lembrar que está ali – comigo, em mim. Certas vezes encosta a cabeça no meu ventre, exausto, com o corpo magricelo em farrapos; então dorme abraçado às minhas entranhas pedindo desculpas pela bagunça que me faz.
Tem um pássaro preso dentro de mim, e eu sou uma jaula, encadeada por tudo o que não me permite simplesmente fugir.

M.M.