quinta-feira, 13 de outubro de 2016

i showed my heart to the doctor, he said i'd just have to quit


15 ou 20 minutos antes eu olhava a sua boca se movendo e tentava focar no que você estava falando pq as vezes eu mergulho no seu rosto e ele me distrai.
10 ou 15 minutos antes eu assistia o jeito que os seus olhos se fixam em um ponto aleatório no ar e piscam lentamente enquanto você pensa em alguma resposta pra alguma pergunta que eu te fiz.
olhar de bala de carabina.
5 ou 10 minutos antes eu recostava a minha cabeça saudosa no seu ombro e me sentia em casa.
se eu soubesse.
se eu pudesse.
teria parado naqueles 15 ou 20 minutos antes.
15 ou 20 minutos antes da cama estranhamente começar a ficar pequena demais.
do meu peito receber, sem surpresas, mais uma vez, um alfinete longo e frio que começa com a dor e o impacto de um tiro, e vai virando aquela dor fina e aguda e meio ardida que não vai me deixar.
você disse que não ia me deixar.
você disse muitas coisas e as pessoas sempre dizem muitas coisas me desculpa foi sem querer nunca mais vai acontecer.
mas os alfinetes continuam lá
15 ou 20 minutos depois eu não reconhecia mais o seu olhar
nem o jeito que a sua boca se move.
quem é essa pessoa comigo nessa cama de repente tão pequena?

domingo, 17 de julho de 2016

some people try to hurt you, others help you to heal

eu não sei
se é o lsd
ou se o seu corpo se encaixa perfeitamente no meu

_
06.09.16

não era metáfora
os poetas
eles não estavam malucos
nem tentando fazer as coisas
parecerem mais interessantes do que realmente são
quando eu te beijei
tudo envolta foi desaparecendo lentamente
as pessoas
as luzes que piscavam
a música
e eu entendi tudo
eu que achava que os poetas queriam nos fazer inveja
falando sobre algo que não existe.
acreditem nos poetas
agora eu sei
não é o lsd
é amor
sempre foi

eu que achei que tinha encarado a minha dor

a gente passa a vida inteira achando que sabemos quem somos
e deixando de ser o que achávamos que éramos.

enquanto eu me esforço pra conhecer quem sou agora
eu mudo
e tenho que me redescobrir.

sempre vai existir um pedaço de você que você não conhece
que, as vezes, outras pessoas conseguem ver
e você não
na construção da nossa identidade
a gente dá dois passos pra frente
e um pra trás
os passos pra trás talvez sejam os mais importantes
em uma grande retomada de si.

eu corri pra muito longe, por muito tempo
corri pq precisava correr
precisava correr para o mais longe possível de quem eu era
ou então
ia me autodestruir
eu corri até me perder
e agora os passos pra trás
são um grande alívio
reconhecendo os pedaços de mim que ficaram no caminho
eu olho no espelho e me pergunto: - onde você esteve?

eu corri tão rápido que parei de perceber que estava correndo

essa é a pior coisa que pode acontecer.

sobre o meu primeiro soco na cara

dói, mas não muito
estala
dá dor de cabeça bem forte na hora
fica dolorido depois, mas não muito
não dá pra mastigar direito no lado do soco
não dá pra morder o alfajor
talvez dê dor no pescoço
não dá muita tontura

segunda-feira, 25 de abril de 2016

So what do you do when you build yourself up - only to realise you built yourself with the wrong things?

"And so you go out into your world, and try and find the things that will be useful to you. Your weapons. Your tools. Your charms. You find a record, or a poem, or a picture of a girl that you pin to the wall, and go 'Her. I’ll try and be her. I’ll try and be her - but here.’ You observe the way others walk, and talk, and you steal little bits of them, you collage yourself out of whatever you can get your hands on. You are like the robot Johnny 5 in Short Circuit, crying, 'More input! More input for Johnny 5!’ as you rifle through books, and watch films, and sit in front of the television, trying to guess which of these things you are watching - Alexis Carrington Colby walking down a marble staircase; Anne of Green Gables holding her shoddy suitcase; Cathy wailing on the moors; Courtney Love wailing in her petticoat; Julie Burchill gunning people down; Grace Jones singing 'Slave To The Rhythm’ - that you will need, when you get out there. What will be useful? What will be, eventually, you?

And you will be quite on your own when you do this. There is no academy where you can learn to be yourself; there is no line manager, slowly urging you towards the correct answer. You are midwife to yourself, and will give birth to yourself, over and over, in dark rooms, alone.

But one day, you’ll find a version of you that will get you kissed, or befriended, or inspired, and you will make your notes accordingly; staying up all night to hone, and improvise upon a tiny snatch of melody that worked.

Until - slowly, slowly - you make a viable version of you, one you can hum, every day. You’ll find the tiny, right piece of grit you can pearl around, until nature kicks in, and your shell will just quietly fill with magic, even while you’re busy doing other things. What your nurture began, nature will take over, and start completing, until you stop having to think about who you’ll be entirely - as you’re too busy doing, now. And ten years will pass, without you even noticing.

And later, over a glass of wine - because you drink wine, now, because you are grown - you will marvel over what you did. Marvel that, at the time, you kept so many secrets. Tried to keep the secret of yourself. Tried to metamorphose in the dark. The loud, drunken, fucking, eyeliner-smeared, laughing, cutting, panicking, unbearably present secret of yourself. When really, you were about as secret as the moon. And as luminous, under all those clothes."

quarta-feira, 20 de abril de 2016

eu parei de escrever
fui cega
covarde
não soube lidar com os meus próprios sentimentos
não quis lidar com os meus próprios sentimentos
escrever não é sobre o outro
nunca foi
nunca deveria ter sido.
isso é sobre mim
para mim
por mim.
escrever sempre foi a minha forma de olhar cara a cara os meus sentimentos
de torná-los concretos
de parar de fingir que eles não existem.
você pode até não ser sincera com as outras pessoas
mas precisa ser sincera consigo mesma
eu menti pra mim mesma do momento em que parei de escrever até agora
e foram-se anos
anos que eu passei sem saber quem eu era
vividos no piloto automático
criei uma barreira entre eu e os meus sentimentos
pq eu tinha medo de olhar através dessa barreira
e não gostar do que veria
covardia
a dor faz a gente cultivar essas covardias
essas armaduras
que nos protegem, mas são muito pesadas
quem é essa pessoa tão cautelosa?
não sou eu
eu não sou assim
eu dou a cara a tapa e me dilacero pelos meus sentimentos
eu transbordo
ou então não estou viva.
nos últimos anos, a dor e o cansaço me levaram para uma grande viagem
umas férias longe de mim
eu precisei disso pra me recuperar
pra me recompor
agora
é como se eu estivesse voltando lentamente para casa
pelos ares
como numa aterrissagem de para-quedas
lá de cima
eu consigo ver tudo
claramente
vejo o que deixei pra trás e abandonei
o que precisa ser retomado
e o que deve ser de fato esquecido
é como se
nessa aterrissagem
eu fosse chegando mais e mais perto do solo
a cada palavra que escrevo
mais perto de mim
é bom estar de volta.