sexta-feira, 19 de outubro de 2018

tempos de paz

de repente. não. não foi de repente. demorou pra caralho.
uma eternidade.
mas também parece que foi ontem
meio que de repente
mas depois de muito sangue, suor e lágrimas
tudo parece meio que se encaixar
todas as peças
que eu esculpi com as unhas já em carne viva
que eu carreguei com as costas já rebaixadas
já corcundas
de repente
todas as juntas que eu lixei por anos com os próprios dentes
elas se encaixam
elas começam a se encaixar
mas ainda assim
enquanto repito pra mim mesma que não preciso mais chorar
por mais um dia seguido
eu choro
ainda assim sempre tem algo mais
não importa o quão cansada eu possa estar
e mais uma vez por qualquer motivo
você me vira o rosto
e eu me sinto mais sozinha do que nunca
tão sozinha quanto sempre
eu choro antes de dormir
todas as noites, como antes
mas agora é como se eu não tivesse direito às minhas próprias lágrimas
é como se elas me dissessem:
- você não lembra?
eu choro no banheiro
como antes
mas agora quase quieta
choro na cama
mas não deixo você ouvir
eu tenho vergonha de você dizendo que eu sinto demais
mas eu tenho mais vergonha de mim
pq voce diz que eu sinto demais
enquanto choro quieta no banheiro
mas você nunca me viu em desespero.
eu digo que não preciso mais chorar
e por outra noite seguida
eu choro até dormir.