quinta-feira, 13 de abril de 2017

how to forget

eu tinha coisas pra escrever sobre
palavras
na minha cabeça
no chão do meu quarto encostada na parede
perto da janela enquanto eu soluçava
enquanto aquela dor que me consumia. que me transbordava sem poder me transbordar.
essa dor não me transborda mais, eu dizia pra mim mesma. tentando me convencer. outra vez.
mas você sabe que tá transbordando quando não consegue levantar e pegar o papel e a caneta just a few centimeters away.
transbordar no vazio é a coisa mais dolorida que existe.
e a respiração vai ficando cada vez mais difícil. opressa.
e o coração batendo cada vez mais rápido.
você se lembra daquela manhã em que eu acordei com um poema do maiakovisky na cabeça?
alguma coisa sobre amar os bichos e a própria dor
também tem outro
sobre um elefante
lâminas
e um pedestal.
que também sempre foi mais sobre mim mesma do que sobre qualquer pedestal
elefante
ou dor.
e eu tô fazendo a mesma coisa
de novo. pq é a única coisa que eu sei fazer.
foquei em organizar tudo à minha volta.
a casa nova, o quarto minuciosamente decorado.
trabalhando mais, em todo o tempo possível.
ganhando mais, como se justificasse.
eu passo o tempo consertando tudo a minha volta pra me distrair.
pra me dar essa sensação que eu sei a todo momento que é falsa, mas que insisto em buscar - a sensação de que está tudo bem.
como se eu tivesse alguém pra enganar além de mim mesma.
como se eu tivesse que mostrar pra alguém que olha, i have moved on. i'm fine.
mas a verdade é que eu tenho que estar.
ninguém tem tempo pra fossa. eu não tenho tempo pra fossa.
ninguém quer saber dos seus traumas das suas dores dos seus demônios dos seus problemas.
por puro egoísmo, todo mundo quer que você esteja bem.
e exige que você esteja bem pq se você não está, ah, é muita inconveniência.
do outro lado
ninguém quer ser a pessoa que vai lembrar todo mundo de que estamos todos fingindo.
sabe
aqueles poemas nunca foram sobre ninguém além de mim.
o dia em que também te pus num pedestal diz mais sobre mim mesma do que sobre qualquer pessoa.
do que qualquer outro dia.
sou eu quem dá o próprio fígado ao vira-lata.
sou eu quem deita na água fria.