sábado, 27 de março de 2021

 I never got to 30

sexta-feira, 10 de julho de 2020

que pedaço de nós não olhamos mais nos olhos?


Por que sou levada a escrever? Porque a escrita me salva da complacência que me amedronta. Porque não tenho escolha. Porque devo manter vivo o espírito de minha revolta e a mim mesma também. Porque o mundo que crio na escrita compensa o que o mundo real não me dá. No escrever coloco ordem no mundo, coloco nele uma alça para poder segurá-lo. Escrevo porque a vida não aplaca meus apetites e minha fome. Escrevo para registrar o que os outros apagam quando falo, para reescrever as histórias mal escritas sobre mim, sobre você. Para me tornar mais íntima comigo mesma e consigo. Para me descobrir, preservar-me, construir-me, alcançar autonomia. Para desfazer os mitos de que sou uma profetisa louca ou uma pobre alma sofredora. Para me convencer de que tenho valor e que o que tenho para dizer não é um monte de merda. Para mostrar que eu posso e que eu escreverei, sem me importar com as advertências contrárias. Escreverei sobre o não dito, sem me importar com o suspiro de ultraje do censor e da audiência. Finalmente, escrevo porque tenho medo de escrever, mas tenho um medo maior de não escrever.



Joguem fora a abstração e o aprendizado acadêmico, as regras, o mapa e o compasso. Sintam seu caminho sem anteparos.Para alcançar mais pessoas, deve-se evocar as realidades pessoais e sociais — não através da retórica, mas com sangue, pus e suor.Escrevam com seus olhos como pintoras, com seus ouvidos como músicas, com seus pés como dançarinas. Vocês são as profetisas com penas e tochas. Escrevam com suas línguas de fogo. Não deixem que a caneta lhes afugente de vocês mesmas. Não deixem a tinta coagular em suas canetas. Não deixem o censor apagar as centelhas, nem mordaças abafar suas vozes. Ponham suas tripas no papel.
Não estamos reconciliadas com o opressor que afia seu grito em nosso pesar. Não estamos reconciliadas.
Encontrem a musa dentro de vocês. Desenterrem a voz que está soterrada em vocês. Não a falsifiquem, não tentem vendê-la por alguns aplausos ou para terem seus nomes impressos.
Com amor,
Gloria

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

embrace sadness

pensei em você antes de dormir
olhei no relógio e faltava exatamente um minuto pras três da manhã
fiquei tentando me lembrar de como era ter você na minha vida
como era te mandar mensagem pra contar uma novidade
como era te encontrar no bar
dividir o maço de cigarro, a garrafa de vinho
a vida
como era ter o que a gente tinha. que agora parece uma memória tão distante dessas que a gente tem que se esforçar pra lembrar.
outro dia eu chorei no show do L7. já faz tempo na verdade
segurei aquela sensação na minha garganta por um tempo.
depois chorei mesmo. when we pretend that we are deaaaaad. eu soluçava encostada na escada da marquise.
come on come onnn. tive que sair pra tomar um ar.
me perguntaram se estava tudo bem e eu disse que tinha lembrado de você.
é como chorar pela morte de alguém que ainda está vivo.

eu tô bem, de verdade.
mas ao mesmo tempo outro dia pensei em me internar.
minha terapeuta disse que eu preciso escrever mais, pintar mais, passar mais tempo fazendo nada.
eu tô há tanto tempo tentando afastar as coisas que eu escreveria sobre da minha cabeça que nem sei mais como deixá-las vir.
ela também disse que eu trabalho demais, faço coisas demais o tempo todo pq se eu parar eu tenho que pensar sobre as coisas, e isso é difícil.
se a Mari de 10 anos atrás me visse pagando 200 reais a hora pra ouvir que na escrita está minha cura
ela cuspiria na minha cara.

alguns dias depois de ter pensado em você às quase três da manhã eu achei teus links salvos no meu computador antigo.
entre filmes do making off e notícias de futebol em alemão, eu te li.

sabe, um dia já foi engraçado.
a gente brincava com isso.
se internar, morrer aos 27, alcoolismo.
hoje em dia é só triste.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

zero

sábado, 8 de dezembro de 2018

tô entre tirar sua roupa e tirar minha vida

it's ok
if we never get to do the stuff we planned to
at least I got to dream those dreams
with you

esse não é um texto inspiracional ou the girl who just wanted to be happy

primeiro eles me disseram que eu mereço ser feliz
não acredite
que sou como os outros
que mereço mais
ser tratada bem, ser respeitada
ser amada do jeito que eu sou
hahaha
como?
se as minhas cicatrizes te ofendem
te irritam
você não tem paciência com elas
quer que elas desapareçam
pq elas te lembram das suas
das suas cicatrizes que eu acaricio
e beijo
e digo tudo bem se vocês nunca forem embora
eu vou aprender a lidar
pq eu te amo com elas
mas esse tipo de amor é meu só pra dar
não é meu pra receber
você aponta as minhas cicatrizes com o dedo
eu cubro as suas
pra que vc não precise ver elas o tempo todo
pq eu sei que dói

a felicidade é um privilégio que eu não tenho
e as vezes é melhor aceitar a tristeza
do que passar o resto da vida lutando por algo que nunca se vai ter
eu posso
até soltar um sorriso, uns gestos alegres
em momentos de calmaria
quando a gente para e pensa: será que é assim que é?
mas nunca é
alegria é a esmola de quem é triste
quem vê o meu sorriso
e enxerga felicidade
é pq não sabe ver

depois eles vão dizer que eu sou doente
que por isso que não consigo ser feliz
a culpa é minha
do meu corpo
não dessa vida sem sentido.
diagnóstico
desequilíbrio químico cerebral
porra nenhuma
doente é quem consegue viver fingindo que não tá vazio por dentro também

por tanto tempo eu me perguntei
desesperada
aos prantos
don't I get to be happy?
e me convenceram que sim pra me fazer continuar cavando com os dentes esse muro de titânio entre mim e onde eu deveria estar.
toda vez que eu cavava por outro quilômetro caia no chão.
cansada
aos prantos
desesperada
me perguntando
am I entitled to any happiness?
e eles me diziam que sim
a cada quilômetro cavado eu me perguntava
não era pra eu estar feliz agora?
foi tão difícil
tem sido um longo caminho
eu já estive tão mais longe
pq não estou feliz ainda?

eles mentiram
algumas pessoas são felizes
outras passam a vida cavando
desesperadas, aos prantos
querendo chegar onde os dentes nunca vão alcançar
am I ever gonna be happy?
não
e as vezes aceitar a tristeza é melhor do que morrer
tentando ser feliz
já que viver é a única saída

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

tempos de paz

de repente. não. não foi de repente. demorou pra caralho.
uma eternidade.
mas também parece que foi ontem
meio que de repente
mas depois de muito sangue, suor e lágrimas
tudo parece meio que se encaixar
todas as peças
que eu esculpi com as unhas já em carne viva
que eu carreguei com as costas já rebaixadas
já corcundas
de repente
todas as juntas que eu lixei por anos com os próprios dentes
elas se encaixam
elas começam a se encaixar
mas ainda assim
enquanto repito pra mim mesma que não preciso mais chorar
por mais um dia seguido
eu choro
ainda assim sempre tem algo mais
não importa o quão cansada eu possa estar
e mais uma vez por qualquer motivo
você me vira o rosto
e eu me sinto mais sozinha do que nunca
tão sozinha quanto sempre
eu choro antes de dormir
todas as noites, como antes
mas agora é como se eu não tivesse direito às minhas próprias lágrimas
é como se elas me dissessem:
- você não lembra?
eu choro no banheiro
como antes
mas agora quase quieta
choro na cama
mas não deixo você ouvir
eu tenho vergonha de você dizendo que eu sinto demais
mas eu tenho mais vergonha de mim
pq voce diz que eu sinto demais
enquanto choro quieta no banheiro
mas você nunca me viu em desespero.
eu digo que não preciso mais chorar
e por outra noite seguida
eu choro até dormir.