quarta-feira, 20 de abril de 2016

eu parei de escrever
fui cega
covarde
não soube lidar com os meus próprios sentimentos
não quis lidar com os meus próprios sentimentos
escrever não é sobre o outro
nunca foi
nunca deveria ter sido.
isso é sobre mim
para mim
por mim.
escrever sempre foi a minha forma de olhar cara a cara os meus sentimentos
de torná-los concretos
de parar de fingir que eles não existem.
você pode até não ser sincera com as outras pessoas
mas precisa ser sincera consigo mesma
eu menti pra mim mesma do momento em que parei de escrever até agora
e foram-se anos
anos que eu passei sem saber quem eu era
vividos no piloto automático
criei uma barreira entre eu e os meus sentimentos
pq eu tinha medo de olhar através dessa barreira
e não gostar do que veria
covardia
a dor faz a gente cultivar essas covardias
essas armaduras
que nos protegem, mas são muito pesadas
quem é essa pessoa tão cautelosa?
não sou eu
eu não sou assim
eu dou a cara a tapa e me dilacero pelos meus sentimentos
eu transbordo
ou então não estou viva.
nos últimos anos, a dor e o cansaço me levaram para uma grande viagem
umas férias longe de mim
eu precisei disso pra me recuperar
pra me recompor
agora
é como se eu estivesse voltando lentamente para casa
pelos ares
como numa aterrissagem de para-quedas
lá de cima
eu consigo ver tudo
claramente
vejo o que deixei pra trás e abandonei
o que precisa ser retomado
e o que deve ser de fato esquecido
é como se
nessa aterrissagem
eu fosse chegando mais e mais perto do solo
a cada palavra que escrevo
mais perto de mim
é bom estar de volta.

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