segunda-feira, 14 de junho de 2010

I love you, I'm not gonna crack

Domingos são sempre uma grande merda. Ainda assim recusei todos os convites e saí de casa tentando me convencer de que era um dia bonito, como essas pessoas que conseguem simplesmente fechar os olhos e seguir dormindo até tarde, cafés-da-manhã ao meio dia embebidos em expectativas de uma semana melhor. Havia um sol calmo amansado pelo vento frio. Dei umas 3 voltas pelo parque, lendo as placas que contavam sobre plantas artificiais plantadas por entre os prédios cor-de-adeus e olhando as crianças que brincavam despreocupadas e asquerosamente inocentes. Um dia será você também, por mais que eu queira que não. Um dia será você já que não há saída. A ordem e a tranquilidade eram tão caóticas que dava pra ver os alfinetes entrando na pele a cada segundo. Estava tudo tão bem que a gente agonizava por dentro, e as pessoas corriam porque é preciso ser saudável e comiam não por fome mas por satisfação e assistiam uma peça de teatro infantil idiota com atores clichemente fantasiados - já era assim muitos anos atrás.
Primeiro, como de praxe, pensei em fazer o cobiçado trajeto do viaduto abaixo. Um garoto gritava sua cadela TÍFANY TÍFANY TÍFANY e eu me perguntava - céus - pq raios havia saído de casa. pq não conseguia achar tudo aquilo normal, pq aquilo arranhava por dentro lembrando que não existia nada mais. Isso já não se parece com um filme, meu amor. Já não há mais poesia que expresse ou conforte ou. Isso é uma luta. Alguns saem quase ilesos da briga consigo mesmos, outros esfarrapichados e destroçados com aquela primeira dor de quem acabou de descobrir uma verdade crua e rude. Porque a culpa já não é minha, você vê? No começo a gente busca, procura, e futuca a ferida por dentro pra entender que as coisas não são bonitas como foram pintadas. Mas chega uma hora em que vira desnecessário, já vejo através das coisas e das pessoas, esse é o momento em que a gente fica esperando qualquer acontecimento surpreendente como o milagre no qual não acredito. Um ópio que espante de vez esse tédio ocioso, mandando pra longe a calmaria da confusão premeditada. Já tentei acreditar que o problema é essa cidade, mas São Paulo na verdade não é mais que o espelho do meu caos interno. O caos a cada esquina como um tapa na cara, as madrugadas vagando com mil coisas na cabeça e ficando engasgada com o grito que nunca sái. Isso aqui é um depósito de pessoas que não se contentaram em saber que o caos existe, mas que quiseram vê-lo de perto. Às vezes fantasiado de puta, bêbado, travesti e - na pior das hipóteses - completamente nú.
Mas ainda deve haver alguma verdade perdida em janelas de ônibus ou no cimento rachado do meio-fio. E é dessa suposição que vivemos, é ela que me faz ainda querer guardar bem mais do que cabe em mim. Queria mesmo era que este roteiro fingido desaparecesse, ou que pelo menos que ele aparecesse pra todos como realmente é. Quem sabe assim eu poderia escrever algo bonito como a lembrança embriagada que guardo de ti. Mas a agonia vai sair de cartaz, meu amor. E por ti eu não vou me diluir, por nós não vou me deixar afogar no que faz os medos serem assim tão delicados.

Um comentário:

  1. Isso tudo é LUTA, eu descobri o sentido de luta de classes que ninguém exprime em livros e manifestos. E quem me dera fosse entre burgueses e proletários. A luta é entre o mundo e todos contra o indivíduo, e o indivíduo contra si mesmo por ser parte do mundo e de todos. Ou seja, explode.

    Tecontar, Buk e SP é uma combinação... tensa. Vou ser repetitiva porque todos sabemos que você e eu (e quem quiser) pode ver através de mim também... e de você: vem ver que a vida ainda vale o sorriso que eu tenho pra lhe dar.

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